segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Tormenta na Desolação

Frank estava ali, no descampado, frente à Desolação. No caminho, seu algoz, a sombra daquilo que um dia fora seu amigo David. Ele vinha em sua direção, espada e escudo em mãos, com olhar desafiador. Frank parou. David continuava vindo, cada vez mais perto. Sua armadura fosca brilhava ao sol daquela manhã.

Frank sacou sua espada, e equipou-se de seu escudo. Não haveria como passar por David sem que houvesse uma luta. Queria evitar isso ao máximo:

-Vamos David, não fique no caminho! Só será pior para nós dois se nós lutarmos aqui na Desolação. Os dragões podem acordar novamente, e então tudo será perdido!

David parou. Por um momento Frank pensou que ele reconsiderara, mas David apenas levantou a mão, retirando seu elmo e deixando-se mostrar seus chifres.

-Sim, agora entendo. Agora entendo o que o levou a trair nossa comissão. Você foi afetado pela febre de dragão. Foi por isso. - constatou Frank, desconsolado - Temo então que não há outra maneira de resolver nossos assuntos pendentes. Teremos que batalhar aqui mesmo, na Desolação. Não importa mais se os dragões acordarem, não é mesmo? Então que assim seja. Vamos lutar.
-Sim, vamos lutar. Eu nunca fui bom em muitas coisas, mas ao menos a febre do dragão, como vocês mortais dizem, me trouxeram boas habilidades com espada. Depois que eu acabar com você, acabarei também com a sua comissão. E então eu saquearei as vilas do sul, estuprarei suas mulheres, farei escravos dos seus soldados e governarei com mãos de ferro. A todos aqueles que quiserem se opor a mim serão degolados, seus membros cortados e espalhados pelos campos e com suas entranhas eu alimentarei os corvos e as aves de rapina.
-É uma pena ver que você cedeu tão cedo à ganância da febre. Talvez você se lembre do homem valoroso que um dia foi, quando lutou ao meu lado nos campos de Galandr, e evitou que essas mesmas mulheres e soldados sofressem pelas mãos dos orcs e trolls.
-Lembro-me. Lembro-me também da estupidez com a qual eu fui emboscado naquela mesma noite. E eu afirmo, que isso não se repetirá. Sinta, Lord Frank, sinta o meu poder. Ele cresce, se multiplica, fica maior a cada dia. Não há quem possa me impedir agora! Eu serei o governador de uma nova ordem, uma nova era. A Era do Caos finalmente chegou, e eu sou seu principal emissário, Lord Frank. Eu, Lord David de Galandr, filho de Jasão de Galandr, neto de Belerofonte de Angklus, serei o novo Rei sobre a Desolação. Todos irão se ajoelhar sobre mim, pedindo, implorando para que eu lhes dê terras para lavrarem e colheitas para trabalharem. Agora, sem mais demoras, vamos ao que nos interessa nesse momento. Vamos, saque sua espada, pois hoje eu farei festa sobre o teu cadáver, Lord Frank de Galandr! Em guarda!

David avançou na direção de Lord Frank, andando. Com seu escudo protegendo o corpo, sua espada vinha, brilhante e letal logo atrás. Quando se puseram à uma distância considerável, ambos deferiram golpes com suas espadas, que soaram um clangor seco, fazendo eco nas montanhas à sua volta. Ambas as espadas se encontraram no ar, e agora os dois lutadores disputavam com força bruta quem dos dois tinha mais vigor físico, suas espadas criando mossas.
David foi o primeiro a livrar-se do bloqueio. Com seu escudo desferiu um golpe na mão direita de Frank, que soltou um urro entre os dentes. Recuperando-se do golpe, girou seu escudo na direção do estômago de David, jogando-o para trás. Seu golpe não fez o efeito inesperado: a armadura de David absorvera todo o golpe. Recuando um pouco, preparou outro golpe, dessa vez uma estocada em direção ao pescoço de David. Com um giro rápido, David bloqueou o golpe com sua espada. Recuperando-se de sua guarda, David fez um movimento circular sobre a cabeça com sua lâmina, e tentou golpear a cabeça de Frank, que rapidamente se esquivou para o lado e tentou uma estocada rápida contra o peito de David, errando por pouco, acertando uma escama de sua armadura.
Ambos voltaram à posição de defesa, escudos postos à frente, suas lâminas preparadas para o primeiro golpe. Ficaram algum tempo se olhando, um tentando prever o movimento do outro.
David foi o primeiro a quebrar sua posição. Usando de sua esperteza, fingiu um golpe na altura do pescoço de Lord Frank, e quando este colocou sua espada na frente para um bloqueio certeiro, David girou na direção contrária, abaixando-se e golpeando na altura dos tornozelos de seu oponente. Lord Frank agiu rapidamente, colocando seu escudo na frente, mas o golpe fora suficientemente forte para derrubar-lhe no chão. Caiu com a barriga para cima, desprotegido pelo golpe anterior. David habilmente golpeou seu oponente caído com seu escudo, lançando a borda inferior contra o pescoço de Lord Frank. Este, num movimento rápido, rolou para o lado duas vezes, escapando primeiro do escudo, e depois de uma ferroada que vinha de cima.
Ao recuperar-se, colocou seu escudo no caminho de outra ferroada que vinha, ligeira, evitando assim que fosse ferido. Ambos voltaram à posição de defesa, escudos protegendo seus corpos. Eles agora começavam a sentir cansaço, mas Lord Frank era o mais afetado por esse cansaço, pois vinha caminhando a noite inteira com sua comissão, parando para descansar raras vezes. Tinha a impressão que sua armadura agora pesava muito mais e machucava seus ombros.
-Ora, vamos, David. Esse é o poder da febre do dragão? Aos meus olhos, suas habilidades mudaram muito pouco. Eu ainda consigo lhe vencer, e prever seus movimentos como antigamente.

David não saiu de sua posição de defesa. Sua expressão continuava sendo a mesma, seus olhos vidrados nos olhos de Lord Frank. O sol os castigava ao meio-dia.

Frank decidiu fazer um movimento arriscado. Levou o escudo consigo e se jogou com toda a força para cima de David, que bloqueou seu peso com o escudo que tinha. Num movimento rápido, David empalou Frank, que também havia lhe cravado a espada. O sangue de ambos molhou o chão árido da Desolação. Frank conseguira acertar David na cintura. Numa ferroada que lhe partiu a armadura, ele enterrou sua espada na entre o cinto e um par de escamas da armadura de David; girou a espada, sentindo a carne de seu oponente ser desfiada. Num movimento brusco, retirou a espada, cortando parte dos músculos da cintura de David.
Num golpe de sorte, David também havia machucado seu oponente de maneira quase mortal. Durante o aparatar de escudos, ele aproveitou a guarda exterior de Lord Frank e enterrou sua espada logo abaixo do braço esquerdo. Num movimento tosco e forte, partiu o ombro esquerdo de Frank, que no mesmo momento empalava David com seu ferrão.

Os dois homens de armadura titubearam, deixando cair seus escudos. Lord Frank foi o mais prejudicado. Sangrava muito e perdera totalmente o movimento do braço esquerdo. David, apoiado em um dos joelhos, olhava o estrago que seu algoz lhe havia feito. Não era nada muito sério, pensava ele, e ainda conseguiria bandir sua espada, embora temesse não poder levantar novamente seu pesado escudo. Levantando-se debilmente, foi na direção de Frank, e retirou sua espada presa nos ombros dele. Dando-lhe um golpe nas pernas, Frank estava novamente caído, dessa vez de joelhos. David voltou à encará-lo. Seu rosto estava pálido e demonstrava sinais de que iria entrar em choque a qualquer momento. David então, proclamou sua vitória.

-Você realmente achou que podia me derrotar, Lord Frank? Não mais. Eu provei hoje a minha superioridade. Você foi vencido, Lord Frank. Vencido. E eu demonstrei minha força, a mesma força que irá governar o novo mundo.

Antes que pudesse terminar seu discurso, Lord Frank lhe encravara a espada em sua perna esquerda, fazendo com que seu sangue fosse espalhado pelo chão. Ainda se segurando em pé, David urrou de dor com os dentes cerrados e agarrou a lâmina da espada de Frank. Num movimento que lhe exigiu força, David enterrou a espada de Lord Frank mais fundo em sua carne, fazendo com que Frank chegasse mais perto dele. David, então, abaixou-se a falar de perto.
-Não hoje, meu caro amigo, não hoje. Hoje a vitória é minha! Toda minha. Seu sangue confirma isso, meu caro amigo.

Tremendo de dor, e pelo frio que agora estava lhe acometendo, Lord Frank virou-se à David:
-Não. A vitória é minha. Eu venci a febre do dragão. Você sucumbiu à ela. Pode ser que você reine com mãos de ferro, e seu reino seja um reino de caos e discórdia; mas hoje, meu amigo e irmão, hoje eu venci as lendas. Eu venci os dragões. Eu irei agora descansar nos Salões de Mármore, junto aos meus antepassados, e comeremos e festejaremos durante toda a eternidade. Quanto à você, eu lhe condeno às Salas de Tormenta e Ódio, para que seu corpo seja atormentado pelas chagas da febre durante toda a eternidade. Morra! Morra com seu ouro e sua prata, com suas prostitutas e seu exército escravo! Eu lhe condeno agora, eu lhe condeno!

Levantando-se, David segurou sua espada. Com a mão esquerda, segurou os cabelos escuros de Lord Frank e puxou sua cabeça para trás. Numa última estocada, tirou a vida de Frank, que morreu ali. E até os dias de hoje aquela região ficou conhecida como Brehan Galandr.

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Notas:
1-a febre do dragão é conhecida por trazer delírios de poder e ganancia à todo aquele que sucumbir a ela. Uma vez ferido por um dragão, a vítima cai em febre ardente durante dois dias. Durante esses dois dias, aquele que for acometido dessa febre ganha um par de chifres de dragão em sua cabeça, simbolizando a maldição. No entanto, em sua essência, esse indivíduo continua sendo um ser humano, embora desenvolva chifres. Poucos indivíduos conseguem resistir à febre.
2-Bre'ehan Galandr signfica Justiça de Galandr
3-Galandr se lê "Galand'or"

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Jornada do Heroi - Parte 3, Chamado à Aventura




No post passado vimos o mundo comum do herói, sua cultura, seus compatriotas; vimos a cultura egípcia e conhecemos a fuga de Moisés para o deserto, após ter matado um egípicio.

O Chamado da Aventura
Após declarar o mundo comum de um herói, o herói é, então, chamado para sua aventura. Após apresentado a esse chamado, o herói não pode permanecer indefinido em seu mundo comum. No caso de Moisés, que teve 2 mundos comuns -embora esses 2 mundos comuns formassem apenas um- sua chamada. Nas histórias do rei Arthur, o mundo pode estar morrendo; em Guerra nas Estrelas, o chamado acontece quando Luke e Obi Wan Kenobi vêm um holograma vindo da Princesa Léia pedindo ajuda.

Nas comédias românticas esse chamado à aventura pode ser um primeiro encontro com alguém especial. Geralmente no cinema americano essa pessoa especial é alguém irritante ou problemática que o protagonista passa a perseguir ou encontrar comumente.

É necessário, no entanto, deixar bem claro o que é essa aventura. Na Jornada do heroi, a aventura pode ser tanto o destino ao qual o personagem vai ao encontro, quanto a aventura que o espera após alguns fatores, que não engloba necessariamente o destino e fim desse personagem. Em “O Hobbit”, Bilbo Bolseiro sai ao encalço dessa aventura e, após chegar ao final desta, ele volta para sua casa, vivendo sua vida pacata.

“O Hobbit” é o exemplo clássico dessa aventura. Num primeiro momento, temos Bilbo em seu pacato Condado, quando numa manhã o Mago Gandalf chega à sua casa e o convida para uma aventura. Na manhã seguinte uma dúzia de anões está em sua casa, tomando café e passando o dia planejando sua aventura. Aqui se dá o chamado para sua aventura. Todos iriam partir para matar o dragão Smaug que aterrorizava uma montanha pertencente aos anões.

Dica: Não se esqueça de que só existe história se o personagem for interessante e se seu desejo for frustrado por um oponente. Exemplo: O policial recebe a missão de levar um perigoso bandido em custódia até outro estado, onde será julgado por vários crimes. Todavia, ele sabe que os comparsas desse criminoso farão de tudo para libertá-lo.

A chamada de Moisés se dá perto do monte Sinai, onde ele vê uma arbusto queimando, porém ele não se consumia; Moisés vendo que havia algo diferente se aproximou. Então ouve uma voz no meio do fogo que dizia: “Moisés, Moisés!” e ele abaixa sua cabeça porque a cultura daquela região dizia que se alguém vislumbrasse uma divindade plena morreria. Ainda aqui o narrador faz questão de contar como é o mundo comum de Moisés. Então Deus ordena: “tira a sandália dos pés porque este lugar é santo”.

Deus diz que é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, seus antepassados, e que ouviu as aflições e o lamento do povo no Egito e agora iria libertá-los. Aqui já é narrado o problema do povo de Israel, com seus problemas de escravidão e maus tratos, necessitando que um heroi se levantasse. E Deus diz que enviará Moisés a Faraó, e Moisés teme, mas Deus garante que estaria com ele. Deus então concede poderes a Moisés e manda que use a vara que tem nas mãos para libertar o povo. George Lucas, ao escrever Guerra nas Estrelas provavelmente se baseou nesse chamado de Moisés, ao colocar Obi Wan Kenobi como tutor de Luke, andando ao lado dele e ensinando a ele o poder da Força (que no caso de Moisés, é Deus, pois todo o poder vem de Deus).

O chamado à aventura estabelece o rumo que história vai ter, e deixa claro o objetivo do heroi. No caso de Moisés, seu objetivo era libertar o povo de Israel e liderá-lo até a terra prometida. O objetivo de Bilbo Bolseiro era, junto com seus amigos anões, ir lá e livrar a terra dos anões do domínio do Dragão Smaug.


No próximo post continuaremos com a saga de Moisés, descobrindo sua Recusa do Chamado, passo importante para que Deus livrasse Israel. Para quem pegou o bonde andando, o post anterior falou sobre o Mundo Comum do Heroi, e pode ser visto AQUI.

Até a próxima!

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Jornada do Heroi parte 2 - O Mundo Comum



    Ok, mas o que foi aquilo tudo no post anterior? Nada mais do que uma pequena introdução daquilo que nós vamos ver daqui para frente. Para um começo, vamos usar a história de Moisés para ilustrar a grande lição que podemos extrair dela. Vamos sobrepor a história de Moisés ao que vimos sobre a jornada do herói. Embora ela não se encaixe com uma perfeição Hercúlea, ela tem elementos em comum. Vamos começar pelo começo(sic). Se você não viu o post anterior, clique AQUI


O Mundo Comum
    A maioria esmagadora das histórias leva o seu personagem, em geral retratado como um personagem comum ao cenário em que ele vive, para fora do seu cenário, lugar comum e cotidiano, em chamado a uma direção estranha , especial e nova.

    Para trazer o personagem para fora de seu mundo comum, geralmente o autor descreve como é a sociedade, os costumes, hábitos de alimentação, trabalho, entre outros. Embora isso não seja uma regra nas narrativas bíblicas, pode-se encontrar muito da cultura e religião do local no qual o personagem protagonista vive. A partir dessa narrativa do ambiente social em que o personagem se encontra, é possível então trabalhar no próximo passo, que é retirar o protagonista desse cenário, fazendo assim com que haja um contraste nítido entre o ordinário e o especial. Em Guerra nas Estrelas temos Luke Skywalker, em sua fazenda pacífica, levando uma vida pacata cheia de tédio antes de embarcar em sua aventura contra o Império Galáctico.

    Na bíblia, encontramos um fato interessante que narra o mundo na qual Moisés iria se levantar. Israel é apresentado debaixo de opressão, depois de falar de sua entrada no Egito e daqueles que entraram com Jacó (1:1). O capítulo 1 de Êxodo, verso 8, fala de um rei que não conheceu José, o que significa que era um rei que não tinha aliança com José nem com os judeus. Uma nova dinastia se levantou, uma nova família sobe ao trono, e Israel que era aliançado com a outra família que perdeu o poder, perde também a sua liberdade.

    O crescimento dos judeus era algo a se notar. Quando entraram havia cerca de 70 pessoas, e quando saíram do Egito 400 anos depois eram pelo menos 2 milhões de judeus. O milagre não está em passar de 70 para 2 milhões e sim na sobrevivência deles.

    A mortalidade infantil e as mortes por guerra eram muito grandes, então os judeus não poderiam ter se tornado tão numerosos não fosse a intervenção de Deus. Os egípcios eram no máximo 5 milhões por isso temiam tanto os judeus, se um povo inimigo se confrontasse com o Egito e tivesse o apoio dos escravos judeus, poderia causar um grande estrago no Egito.

    Com a matança das crianças, o povo começa a clamar ao Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, e Deus responde a eles fazendo nascer uma pessoa. Essa é a forma tradicional de Deus responder ao seu povo, e Moisés foi esse homem.

    Israel tem um problema, nasce Moisés; O mundo tem um problema, nasce Jesus. Deus resolve nossos problemas com pessoas, mostrando que Deus é um ser relacional e interpessoal e não abre mão disso.

    Quando Moisés nasce, a mãe o protege porque a ordem era matar os meninos logo após o nascimento, porém as parteiras israelitas temem a Deus e preservam o menino. Ele foi escondido o maior tempo possível, porém o seu choro poderia denunciá-los, por isso sua mãe traçou um plano de colocá-lo num cesto de vime impermeabilizado com betume lançando-o no rio pela manhã, porque é costume dos egípcios tomarem banhos cerimoniais nesse período. A filha de Faraó achou o cesto e se encantou pelo menino e o adotou, Miriã, que já era esperta desde aquela época, veio avisar que havia uma mulher que poderia ser a mãe de leite dele. E a própria mãe de Moisés é contratada para amamentá-lo até 3 ou 4 anos de idade, quando então ele seria separado de sua mãe e criado pela filha de Faraó.

    Deus levanta Moisés como uma figura messiânica. Ele vai ser educado na escola dos nobres; ser educado no Egito significa aprender matemática, astronomia, medicina e construção, esses ensinos começavam desde pequeno até a idade de 40 anos, dependendo do interesse da pessoa.

    O Faraó tinha duas características, a primeira era ser egípcio nato, a segunda tinha que se casar com sua irmã de sangue, dessa forma Moisés jamais poderia alcançar esse cargo.

    Depois de todo o conhecimento recebido, Moisés estava preparado para ser governante do Egito, ele descobre que não é egípcio e sim judeu. Quando ele vê o estado lastimável do seu povo, procura uma maneira de defender os judeus, ele se sente como um protetor de Israel, nessa tentativa de proteção ele encontra um judeu sendo maltratado por um egípcio, ele entra em confronto e o mata. Como a maioria das pessoas, Moisés pensou que enterrando o cadáver, ninguém ficaria sabendo. A verdade é que não se consegue esconder um acontecimento dessa seriedade. No dia seguinte, Moisés viu dois judeus brigando, e ao interceder um deles pergunta: “vai me matar como fez com o egípcio ontem?”. A essa altura, os capatazes de Israel também já estavam sabendo, conseqüentemente, Faraó também, logo Moisés seria morto, não por matar um egípcio, mas por matar um egípcio para defender um judeu.

    Moisés então foge para Mídiã, ali encontra as filhas de Reuel, também chamado Jetro, que estão cuidando do rebanho do pai. Por serem mulheres, são enxotadas pelos pastores do local, mas Moisés as defende e dá água para o rebanho delas. Quando o pai delas fica sabendo disso chama Moisés para que fique com eles. Moisés se casa com Zípora a filha de Jetro, que gerou dois filhos. Moisés acaba vivendo um novo tipo de vida, diferente de tudo o que ele conhecia, e se tornou um pastor de ovelhas, aprendendo a paciência de tal forma que se tornou o homem mais manso daqueles dias. Ele agora vai passar 40 anos sendo treinado em outra escola, num processo de reeducação, e o ministério de Moisés começa quando ele está com 80 anos.

    Todo esse processo a bíblia narra como sendo o mundo comum do herói – nesse caso, Moisés. Nesse mundo comum, Moisés passa por 2 ambientes contrários: a vida da cidade, como um homem de negócios, estudante das ciências e futuro político; e a vida no interior, pacata, como pastor de ovelhas e pai de uma família. Nesse processo de câmbio de culturas a bíblia dá início à narrativa d'O Chamado para a Aventura, onde o herói é convidado a se retirar de seu mundo comum para dar início a sua jornada ao desconhecido. Na próxima postagem falaremos sobre esse Chamado para a Aventura.

    Abraços!

sábado, 16 de outubro de 2010

A Jornada do Herói - Parte 1



Saudações cristãos da província! Hoje dou inicio a uma série de posts sobre a Jornada do Heroi Cristão. Vamos primeiro conhecer o monomito, o que foi, como isso deu origem a outros fatos relevantes em livros, quadrinhos e filmes, como o Joseph Campbell conseguiu enxergar a Jornada do Heroi. Vamos aos poucos desvendar a jornada de Moisés, Sansão, Davi e Jesus usando o modelo proposto, e colocando em paralelo personagens do nosso dia a dia, como Neo, Luke Skywalker, Frodo Bolseiro e outros herois da mitologia. Confira aqui o primeiro post, de uma série. O próximo sai na terça-feira!

O monomito (às vezes chamado de "Jornada do Herói") é um conceito de jornada cíclica presente em mitos, de acordo com o antropólogo Joseph Campbell. Como conceito de narratologia, o termo aparece pela primeira vez em 1949, no livro de Campbell The Hero with a Thousand Faces ("O Herói de Mil Faces"). No entanto, Campbell era um conhecido estudioso da obra de James Joyce (em 1944 publicara, em co-autoria com Henry Morton Robinson, a resenha A Skeleton Key to Finnegans Wake ("Uma Chave-Mestra para Finnegan's Wake") e tomou emprestado o termo monomyth (monomito) do conto Finnegan's Wake, do autor irlandês.

O padrão do monomito foi adotado por George Lucas para a criação da saga Star Wars, tanto na trilogia original quanto suas "preqüências".

O roteirista de Hollywood e executivo da indústria cinematográfica Christopher Vogler também usou as teorias de Campbell para criar um memorando para os estúdios Disney, depois desenvolvido como o livro "The Writer's Journey: Mythic Structure For Writers" (A Jornada do Escritor: Estrutura Mítica para Roteiristas). Este trabalho influenciou os 10 filmes produzidos pela empresa entre 1989 (A Pequena Sereia) e 1998 (Mulan), além da trilogia Matrix dosirmãos Wachowski.

A idéia de monomito em Campbell explica sua ubiqüidade por meio de uma mescla entre o conceito junguiano de arquétipos, forças inconscientes da concepção freudiana, e a estruturação dos ritos de passagem por Arnold van Gennep.

Desde o final dos anos 1960, com o advento do pós-estruturalismo, teorias como as do monomito (que são dependentes de abordagens baseadas no estruturalismo) perderam terreno nos círculos acadêmicos. Este padrão da "jornada do herói" ainda é influente entre artistas e intelectuais mundo afora, no entanto, o que pode indicar a utilidade contínua e a influência ubíqua dos trabalhos de Campbell (e assim como evidência sobre a importância e valididade dos modelos psicológicos freudiano e especialmente junguiano).

Ok, muito blábláblá de encheção de línguiça. Vamos ao que interessa, que é a sequencia que o herói segue.

O monomito está dividido em três seções: Partida (às vezes chamada Separação), Iniciação e Retorno.

A Partida lida com o herói aspirando à sua jornada; a Iniciação contém as várias aventuras do herói ao longo de seu caminho; e o Retorno é o momento em que o herói volta a casa com o conhecimento e os poderes que adquiriu ao longo da jornada. Isto foi estabelecido por Joseph Campbell na primeira parte de O Herói de Mil Faces, intitulada "A Aventura do Herói". A tese do autor é de que todos os mitos seguem essa estrutura em algum grau. Para citar vários exemplos, as histórias de Prometeu, Osíris, Buda e Jesus Cristo todas seguem este paradigma quase exatamente, enquanto a Odisséia apresenta repetições frequentes da Iniciação, o conto da Gata Borralheira (Cinderela) segue esta estrutura um tanto mais livremente e até mesmo o anime Cãezinhos de Sorte se vale de alguns estágios.

Os 12 Estágios da Jornada do Herói:


  1. Mundo Comum - O mundo normal do herói antes da história começar.
  2. O Chamado da Aventura - Um problema se apresenta ao herói: um desafio ou a aventura.
  3. Reticência do Herói ou Recusa do Chamado - O herói recusa ou demora a aceitar o desafio ou aventura, geralmente porque tem medo.
  4. Encontro com o mentor ou Ajuda Sobrenatural - O herói encontra um mentor que o faz aceitar o chamado e o informa e treina para sua aventura.
  5. Cruzamento do Primeiro Portal - O herói abandona o mundo comum para entrar no mundo especial ou mágico.
  6. Provações, aliados e inimigos ou A Barriga da Baleia - O herói enfrenta testes, encontra aliados e enfrenta inimigos, de forma que aprende as regras do mundo especial.
  7. Aproximação - O herói tem êxitos durante as provações
  8. Provação difícil ou traumática - A maior crise da aventura, de vida ou morte.
  9. Recompensa - O herói enfrentou a morte, se sobrepõe ao seu medo e agora ganha uma recompensa (o elixir).
  10. O Caminho de Volta - O herói deve voltar para o mundo comum.
  11. Ressurreição do Herói - Outro teste no qual o herói enfrenta a morte, e deve usar tudo que foi aprendido.
  12. Regresso com o Elixir - O herói volta para casa com o "elixir", e o usa para ajudar todos no mundo comum. (conteúdo retirado da Wikipedia)


No próximo post eu irei colocar a história de Moisés sobre estes 12 Estágios do Herói. Isso serve não apenas para roteiristas que querem desenvolver uma história, mas também para curiosos em conhecer a história do mundo, assim como da bíblia. Note que nem sempre as histórias se encaixarão perfeitamente nesta ordem, podendo uma estar num lugar diferente, mas em geral elas mantém o mesmo padrão. No próximo post trataremos do primeiro estágio, o Mundo Comum do herói.

Até a próxima!